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Fertilização in vitro (FIV)

36,3 mil fertilizações in vitro foram realizadas por 146 clínicas brasileiras em 2017

Esse é tratamento mais falado, mais caro (financeiramente e psicologicamente falando) e com mais expectativas. Isso porque para o senso comum a fertilização in vitro (FIV) é responsabilidade da ciência, certo? Huuum, não é assim. Não é 100% de garantia. Vamos no passo a passo mais uma vez.

 

1º passo - É o primeiro dia do ciclo. Dia de conseguir um agendamento ou encaixe com sua(eu) médica(o). Aquela recepcionista e secretária bacana vai dar um jeito de você ver sua(eu) especialista médica(o) para fazer o ultrassom para a contagem dos folículos antrais.

 

2º passo - Sinal verde? Então toca tomar indutores para a estimulação ovariana. Já falei, mas retomo que pode ser via oral e injetável, a gama de medicações é super ampla e está cada vez mais tecnológica!

 

3º passo - Normalmente volta-se no 3º dia ultrassons seriados no consultório médico para acompanhamento. No início do tratamento, os folículos crescem mais devagar. Lá para o 7º, 8º dia, estão mais rápidos (0,5 mm por dia).

 

4º passo - Temos um fato clínico: para 99% das mulheres, a ovulação acontece quando o folículo dominante atinge 20mm. Sendo assim, dependendo do seu organismo, lá no 8º dia, a(o) médica(o) pode se deparar com folículos de 12mm, de 16mm, ou mesmo de 18mm. Fazendo as contas, que na maioria das vezes podem crescer 0,5mm a cada 24h, esse maior poderia escapar. E os menores não terem chance de crescer. Equação difícil, não?

 

Então, além do indutor de crescimento dos folículos, em algum momento entre o 7º e 11º dia, é prescrito para a mulher o “amadurecedor” de folículos, o “segura eles aí, pessoal”, ou, na linguagem médica, bloqueador do hormônio LH. Assim, os folículos continuam crescendo lindos e sem perigo de escaparem para uma ovulação. Oba.

 

5º passo - Bem, os ultrassons seriados continuam, a visita ao consultório médico ou laboratório de análises clínicas já se tornam uma rotina da mulher neste ciclo. Geralmente, lá pelo 12º, 13º dia, a(o) médica(o) verifica via ultrassom a homogeneidade do crescimentos dos folículos para que no dia da coleta consiga puncionar (retirar) mais folículos maduros. O que são folículos maduros? Aqueles que terão um óvulo ao serem analisados  pelos embriologistas. É uma decisão bem importante da(o) médica(o), porque ela(e) faz os cálculos de quantos milímetros terão aqueles folículos dali a alguns dias, para ver que horas a paciente deve tomar o terceiro tipo de medicação, para indução da ovulação.

 

6º passo - Então a(o) médica(o) reflete com base em seu conhecimento e experiência e decide que horas a paciente deve tomar a medicação, que horas ela deve estar na clínica de fertilização e tal. Hora da verdade, primeiro tempo!

 

Exemplo de uma orientação médica já recebida: “Paciente amada, você deve tomar o indutor de ovulação às 22 horas. Daqui a dois dias, esteja na clínica de fertilização às 8h30. Sua coleta será pontualmente às 10h.” Entendeu como funciona?

 

7º passo [mulher] - Então chegou o dia da coleta, de aspiração dos folículos ovarianos.  Nesse dia é necessário um jejum absoluto de 8 horas. A mulher então chega na clínica, é dirigida para uma área mais reservada, onde retira sua roupa por completo e coloca um avental cirúrgico virado para frente, acompanhado de touca de cabelo e sapatinhos (tudo daquele material descartável). Depois ela vai (caminhando ou numa maca movida pelas(os) enfermeiras(os)) para a sala cirúrgica.

(PS: não é cirurgia, mas é a sala médica esterilizada da clínica).

 

7º passo [homem] - Opa! Antes disso (esqueci de falar!), o parceiro vai “coletar o material” em outro ambiente. É, isso mesmo. Ejacular no potinho >_<.  Na maioria dos casos, é mais engraçado que constrangedor, mas é assim: a vida como ela é, sem censura e nem glamour! Rs.

 

Esse material - esperma - vai ser tratado pelos embriologistas que vão separar os melhores nadadores e morfologicamente mais aptos a fecundar o óvulo. Geralmente, é utilizada a técnica ICSI (Intracytoplasmic Sperm Injection ou Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides), que consiste na captura dos melhores espermatozoides e introduzir apenas um no óvulo. Essa técnica existe no Brasil desde 1994 e é utilizada na maioria das FIV

 

De novo, é preciso dizer que é melhor o homem não ter ejaculado 48 horas antes (lembrando que recomendação pode ser diferente variando de médicos).

 

Veja, em alguns casos existe a doação de esperma. Com o crescimento das famílias homoafetivas e as mulheres que desejam uma maternidade independente de companheiro, essa doação é cada vez mais frequente. O tratamento do esperma é feito da mesma maneira pelos embriologistas: são escolhidos os mais móveis e com aspecto morfológico melhor.

 

8º passo - Voltamos à mulher. Com ela na mesa médica, dentro da sala de procedimentos médicos, é apresentada à(ao) anestesista, que faz algumas perguntas, do tipo  se a paciente é alérgica a algo, se já tomou anestesia antes, etc. Depois seguem procedimentos médicos padrões de anestesia, geralmente no braço, para uma sedação profunda e monitorada. (PS: cuidado para não se alimentar no dia e cumprir o jejum absoluto de 8 horas antes. Senão, vai sobrar uma raquianestesia para você, rs).

 

9º passo - Com a mulher anestesiada, começa o trabalho da(o) ginecologista, 99% dos casos a(o) mesma(o) que acompanha aquela paciente.  Ela(e)usa o espéculo conhecido de quem faz papanicolau.

 

A punção folicular funciona assim: a(o) médico usa um cateter  bastante fino acoplada no ultrassom transvaginal. Esse cateter perfura o ovário o escolhido, chega em um folículo, perfura ele também, e suga o óvulo.  O controle e destreza da(o) médica(o) é muito importante, porque é ela(e) que controla a velocidade e precisão do procedimento, via mão e pés (nos pés estão o controle da bomba de sucção do cateter, via pedal). Uma maestria do trabalho e tanto! Clap, clap.

 

10º passo - A aspiração dos folículos pode durar 10 a 30 minutos, bem rápida até. Depende da quantidade de folículos que a paciente desenvolveu, sendo alguns no ovário direito e outros no ovário esquerdo. Em alguns casos, de baixa reserva ovariana, a(o) médica(o) pode optar por aspirar um folículo só. Lembrando que para ter fertilização, basta haver um óvulo maduro.

 

Ao furar um folículo, quem recebe o material é outro profissional médico importantíssimo nesta FIV: a(o) embriologista. Sim, é ela(e) quem cuida seus pré bebezinhos :) Com ajuda de um microscópio, ela(e), que fica num laboratório do lado de sala de procedimentos, vai falando para a(o) médica(o) se o material recebido tem óvulo ou não. Ufa, que ansiedade!

 

11º passo - Com a punção ovariana no fim, a paciente é direcionada para uma sala de recuperação ou o um quarto individual (dependendo de onde for feito). Ao mesmo tempo, o foco da FIV está na(o) embriologista, que está analisando os óvulos obtidos e o material masculino (espermatozoides espertos selecionados).

 

Após a aspiração ovariana, os óvulos são contados, classificados como maduros, de maturação intermediária ou imaturos. Eles são mantidos em uma incubadora nas placas de cultivo celular, que contêm meios de cultura para eles. As placas são identificadas com o nome da paciente. Em algum momento, geralmente após 3-5 horas, a(o) embriologista vai fazer a fertilização desses óvulos, injetando um espermatozoide em cada óvulo.  

 

Durante algum tempo, esse sistema celular fica com dois núcleos (um do espermatozoide e outro do óvulo). Após, um dia, já é possível observar se houve fecundação. Essa fase do embrião de uma célula chama-se zigoto. Esse é seu bebezinho fora do útero <3.

 

12º passo - Primeiro dia após FIV:  Se tudo certo, no segundo dia, ou D2, esse embrião, que está na fase de clivagem, terá de 2 a 4 células. Nesse dia, sua(eu) médica(o) vai ligar para você ou enviar uma mensagem no Whatsapp com a novidade do dia, que é se seu embrião evolui para este quadro. Muito provavelmente vai receber uma foto da ficha de anotação da(o) embriologista. Ela(e) vai lhe dizer também o grau de fragmentação dos seus embriões.

 

O que é grau de fragmentação do DNA?  São pedaços do citoplasma que resultam em divisões celulares que ficaram desequilibradas, então há menos simetria entre as células embrionárias (blastômeros). Os embriões passam a ser classificados assim:

 

Embrião tipo A: possui menos de 10% de fragmentação;

Embrião tipo B: entre 10% a 25% de fragmentação;

Embrião tipo C: entre 25% e 50% de fragmentação.

 

13º passo - Terceiro dia após a FIV ou D3. Aqui, o ideal é que os embriões tenham 8 células simétricas cada e menor ausência de fragmentação possível. Veja que também podem ter 7 a 10 células. Saiba que embriões de D3 são bons para congelar. Essa decisão é da(o) médico e do casal. O casal recebe dos médicos notícias do desenvolvimento do embrião.

 

14º passo - Quarto dia após a FIV ou D4. Esse dia aqui o casal geralmente não tem novidades pelos médicos, porque as divisões celulares ficam aceleradas e o controle se ele se desenvolverá bem é mais propício no quinto dia de desenvolvimento celular. O que sabemos é que no D4 o embrião fica mais compactado, chamado de mórula, chegando a 32 células.

 

15º passo - Quinta dia após a FIV ou D5. Esse é o dia do tão falado blastocisto, o embrião bom para congelar, porque se desenvolveu mais e tem, na maioria das vezes, umas 200 células! As células do blastocisto já estão diferentes também: a parte interna dele vai formar os tecidos e órgãos do futuro bebê e a parte externa vai formar o saco gestacional, que depois se transforma na placenta, assim como toda a estrutura celular que o bebê precisará para se desenvolver na barriga da mulher.

 

Ah, mas por quê todo mundo fala que é melhor implantar o blastocisto? Veja, numa fecundação que ocorre dentro do sistema reprodutor feminino, na trompa de falópio, o embrião passa por essas fases do D2, D3, D4 sendo “empurrado” para o útero através dos “cílios” da trompa. Ele chega ao útero após percorrer 5 ou 6 dias, meio que prontinho para grudar no endométrio. Isso porque nessa fase acontece naturalmente um processo chamado assisted hatching, que é o rompimento da “casca” do embrião para se fixar no endométrio.

 

Na FIV, esse processo é realizado pelas(os) embriologistas ainda no laboratório, antes da implantação. Eles fazem uma micromanipulação em um pequeno parte da zona pelúcida do embrião para facilitar a implantação no útero. Aí, o próximo passo seria a transferência embrionária (TEC), para o embrião continuar o desenvolvimento no útero da mulher.

 

A fertilização in vitro é normalmente recomendada porque não vai usar as trompas de falópio. Ou seja, se você tiver problema nas trompas, pouco importa.

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